Tuesday, August 04, 2009

Desigualdade social: menor desde 2002

terça-feira, 4 de agosto de 2009, 18:24 | Estadão Online

Em junho, índice de Gini atingiu 0,493 pontos, o menor nível desde 2002, quando começou a ser apurado

Anne Warth, da Agência Estado

SÃO PAULO - Embora os efeitos da crise financeira internacional tenham gerado retração da economia no quarto trimestre de 2008 e no primeiro trimestre de 2009, a desigualdade social no Brasil diminuiu ao longo do primeiro semestre deste ano e registrou a maior redução contínua desde março 2002, início do levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Em junho, o índice de Gini atingiu 0,493 pontos em junho, o menor nível desde 2002, quando começou a ser apurado pelo Ipea. O índice de Gini é um coeficiente criado pelo italiano Corrado Gini em 1912 para medir a desigualdade social, e varia de 0 a 1. Nesse cálculo, quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade, e quanto mais próxima de zero, melhor a distribuição de renda. Entre janeiro e junho deste ano, a desigualdade caiu 4,1%, a maior queda ininterrupta da série histórica da pesquisa.

O índice de Gini é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini e publicada em 1912. É comumente utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de renda, mas pode ser usada para qualquer distribuição. Ele consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade de renda (onde todos têm a mesma renda) e 1 corresponde à completa desigualdade (onde uma pessoa tem toda a renda, e as demais nada têm).

O Ipea usou como base as informações sobre o rendimento da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feita em seis das principais regiões metropolitanas do País - Recife (PE), Salvador (BA), Belo Horizonte (BH), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS).

Segundo o Ipea, desde março de 2002 a desigualdade social no País caiu 7,6% - na época, o índice de Gini era de 0,534. Desde dezembro de 2002, quando o coeficiente atingiu 0,545, o pior resultado da série, a redução da desigualdade foi de 9,5%. Em outros dois períodos de destaque na redução contínua da desigualdade social, o resultado foi inferior ao registrado de janeiro a junho deste ano. De abril a novembro de 2003, a desigualdade caiu 3,6%; e de março a outubro de 2007, 3,4%.

De acordo com o instituto, a redução do índice de Gini "pode estar relacionada tanto à perda de valor real das maiores rendas do trabalho como à proteção do conjunto dos rendimentos na base da pirâmide ocupacional nas regiões metropolitanas", diz o texto.

"De um lado, a crise se manifestou de forma mais concentrada no setor industrial, que geralmente paga os melhores salários. De outro lado, temos a proteção da renda na base da pirâmide social brasileira, com aumento do salário mínimo e políticas de transferência de renda previdenciárias e assistenciais", afirmou o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.

Embora a redução da desigualdade tenha sido intensa no período, Pochmann ponderou que ela ainda não é suficiente. "Um índice de Gini acima de 0,4 ainda representaria péssima distribuição de renda. Há uma tendência de queda, mas ainda estamos longe de chegar a algo comparável a países mais avançados", admitiu.

Pobreza

Ainda segundo a pesquisa, a taxa de pobreza chegou a 31,1% da população em junho deste ano nas seis regiões metropolitanas, atingindo 14,5 milhões de pessoas. Em março de 2002, a taxa de pobreza era de 42,5% da população e atingia 18,5 milhões de habitantes. Nesse período de sete anos, quatro milhões de brasileiros deixaram a pobreza, uma redução de 26,8%. De janeiro de 2007 a junho de 2009, a pobreza caiu 6,1%, de forma ininterrupta, a uma média mensal de 0,35%.

A pobreza desde 2002 diminuiu mais fortemente em Belo Horizonte, onde a queda foi de 35,5%, Porto Alegre (-33,6%) e Rio de Janeiro (-31,2%), e de forma mais lenta, abaixo da média nacional de 26,8%, em São Paulo (-25,2%), Salvador (-23,9%) e Recife (-14,1%). Em junho, a maior taxa de pobreza foi registrada em Recife (51,1%), e a menor em Porto Alegre (25,7%). Em São Paulo, ela chegou a 27%; no Rio, 29,6%; em Belo Horizonte, 30%; e em Salvador, 44,3%.

No Rio, 1,4 milhão de pessoas deixaram a pobreza; em São Paulo, 1,3 milhão; em Belo Horizonte, 600 mil; em Porto Alegre, 400 mil; em Salvador, 200 mil; no Recife, 100 mil pessoas.

No comunicado, o Ipea destaca que os indicadores sociais apresentaram um comportamento diferente nessa crise em comparação ao que normalmente ocorria em períodos de retração da economia.

"A situação atual apresenta algo de novo em relação a outros momentos de grave manifestação de crise econômica no Brasil. Ao contrário dos períodos de 1982/83, 1989/90 e de 1998/99, quando a inflexão econômica implicava aumento da pobreza nas regiões metropolitanas, não se observa crescimento na taxa de pobreza desde o último trimestre de 2008", diz o texto.

A instituição ressalta que ainda é preciso analisar o que motivou essa mudança, mas afirma que "a interferência da política anticíclica deve também estar resultando em efeitos compensatórios suficientes para evitar o agravamento social nas regiões metropolitanas".

Labels:

0 Comments:

Post a Comment

<< Home